Ciclos do mercado

Um dos maiores investidores do nosso tempo, Howard Marks, gestor do fundo OAK Tree, detalha no livro a importância dos ciclos de mercado e como devemos aproveitar destes ciclos para gerenciar o portfólio. Nas palavras de Marks: “aproveitar os ciclos de mercado é colocar as chances à seu favor”.

Conforme um ciclo se desenvolve, somos expostos a diversos riscos diferentes. Risco significa que mais coisas podem acontecer do que realmente irão acontecer. Assim, é de extrema importância se contextualizar como está o mercado geral pelo menos 1x por trimestre.

Os eventos em um ciclo não devem ser visto como seguidos e sim qual evento causa o próximo. Os ciclos não possuem início ou fim. São contínuos. Funcionam como um pêndulo. Uma das frases mais geniais do livro “A história nunca se repete, mas rima” mostra como devemos nos lembrar bem de eventos que já ocorreram no passado. Marks cita neste ponto que carreiras de sucesso trazem consigo as sementes de falhas. E carreiras falhas trazem as sementes do sucesso. Isto dito, podemos tirar a conclusão que tempos difíceis fazem pessoas fortes e tempo fáceis fazem pessoas fracas.

Viver e entender os ciclos irá te fazer mais propenso a entender os eventos causadores dentro do ciclo, pois experiência é o que você ganha quando não recebeu o que esperava.

O ciclo econômico

É o ciclo mais macro que existe, de longo prazo e que está relacionado diretamente com a riqueza de um país. Este ciclo é afetado pelo PIB, este, por sua vez, está ligado ao aumento de produtividade e de horas trabalhadas, ambos os fatores relacionados com:

  • Movimentos migratórios;
  • Taxa de emprego e desemprego;
  • Empreendedorismo;
  • Educação;
  • Automação;
  • Globalização.

Aumento no PIB -> mais consumo -> itens mais caro -> mais lucro para empresas.

Itens que acompanham o ciclo econômico são: commodities e itens de alto custo, considerado duráveis, como casas e carros. Bens de consumos não acompanham diretamente o ciclo econômico.

Assim, neste ciclo o envolvimento dos governos é extremamente presente para conter a inflação. Esta pode vir devido à demanda ser maior que a oferta, o custo da matéria prima subindo ou valorização da moeda nacional. O aumento da inflação, por sua vez, pode gerar uma recessão (quando tudo está tão caro que não há mais gastos por parte da população), trazendo prejuízo para empresas e, por consequência, aumento do desemprego.

Para tentar aproveitar o ciclo econômico e dos lucros crescentes, as empresas podem vir a se alavancar. Esta alavancagem vem de duas maneiras: operacionalmente e financeiramente. A primeira está relacionada em quanto os custos fixos representam nos custos totais. A segunda, quando as dívidas representam no patrimônio total. A alavancagem é motivo pelo qual os ciclos econômicos afetam empresas em diferentes níveis.

Como dito, o ciclo é como um pêndulo. Alguns elementos que caracterizam os extremos do pendulo são: euforia/depressão, caro/barato, ganância/medo, pessimismo/otimismo, tolerância ao risco/aversão ao risco, crença/ceticismo, urgência em comprar(FOMO)/pânico em vender.

Muitos dos elementos envolvem sentimentos. Por isso, em se tratando de investimento, devemos ser “sem-emoção” e puramente analítico. Um ponto interessante sobre essa metodologia é o entendimento do risco no ciclo. Quando o mercado vê pouco risco nos investimentos é que, provavelmente, o risco está alto. Assim, o maior inimigo de qualquer investimento é quando a tolerância ao risco é maior  que à aversão. Arriscado é pensar e acreditar que não há risco. Os investimentos mais seguros usualmente acontecem quando todos estão convencidos de que não há esperança.

A mente humana tem memória curta, por isso desastres financeiros são facilmente esquecidos. Uma nova geração, com confiança que “dessa vez será diferente”, faz a mesma coisa, deixando de lado o passado e a apreciação do presente, continuando o ciclo.

Durante pânicos, a maioria das pessoas gastam tempo se certificando que não irão perder dinheiro, no entanto, devemos nos preocupar em perder grandes oportunidades. Por outro lado, quanto maior o otimismo, mais eventos futuros estão precificados no presente, tornando a margem para erro menor. Assim, tem-se que o ceticismo só deve ser relacionado ao pessimismo quando o otimismo está excessivo.

O ciclo do crédito

O ciclo está intimamente ligado com empréstimo de dinheiro e uso do mesmo. A sucessão de uma onda completa do ciclo, pode-se iniciar com a economia crescendo, as pessoas fazendo dinheiro e vários empréstimos disponíveis, assim, a aversão ao risco é quase nula. A taxa de juros dos empréstimos começam baixar para ganhar o market share. Neste ponto, diversos projetos são financiados e muitos deles não irão ter sucesso. Após estes negócios mal sucedidos começarem a vir à tona, os empréstimos começam a desaparecer, a taxa de juros dos empréstimos volta a subir e, assim, o risco aumenta até atingir o pico negativo que é a falta de crédito. Logo, muito dos negócios mal sucedidos declaram falência. Este é o ponto que, emprestar dinheiro irá gerar os maiores retornos.

O topo negativo deste ciclo é descrito por Marks como “a corrida para o fundo”, quando as pessoas competem e pagam mais por algo que retorna menos e/ou é mais arriscado.

No ciclo do crédito, são as pessoas que emprestam dinheiro que ditam o ritmo do ciclo. Temos então o pontos do ciclo que devemos ter cuidado e que são atrativos, respectivamente:

  • FOMO: fear of missing out (medo de perder de ganhar) / medo de perder;
  • Aversão ao risco baixa / elevada;
  • Muito dinheiro para poucos negócios / falta de dinheiro;
  • Vontade de comprar em grandes quantidades / dificuldade de refinanciamento;
  • Ativos inflados, baixo retorno e alto risco / falências.

O ciclo da dívida e dos imóveis

O ciclo da dívida vem como consequência do ciclo dos empréstimos e é extremamente parecido, porém ao invés de empréstimos é considerado a disponibilidade de pagar as dívidas.

O ciclo dos imóveis, no entanto, mostra-se defasado a outros ciclos porque construções demoram anos desde a concepção até a materialização.

Bull e Bear Market

Respectivamente, em ciclos crescente e decrescente do mercado de ações podemos observar os seguintes comportamentos, partindo do ponto baixo do ciclo:

  1. Somente alguns investidores: acreditam que as coisas irão melhorar / entendem que, apesar de tudo estar bem, a “vida não é só rosas”;
  2. A maioria dos investidores percebem que: a melhora está acontecendo / as coisas estão se deteriorando;
  3. Todos estão convencidos que as coisas: vão melhorar para sempre / vão piorar para sempre.

É impossível falar de Bull e Bear markets sem falar de bolhas. Estes eventos começado de algo que é verdade mas são levados muito longe. O fato que investidores estão dispostos a engolir promessas de retornos sem risco é um indicativo que não existe ceticismo, a psicologia está sobreaquecida o ativo está sobre-estimado.

Sucesso nos investimentos

Marks começa o capítulo com frases de outros dois mestres em investimentos:

“Em situações que participantes pensantes estão presente, a visão distorcida dos participantes pode influenciar a situação que eles se encontram porque falsas visões levaram à ações inapropriadas”, George Soros.

“O mercado pode permanecer irracional por mais tempo que você consegue permanecer líquido”, John Maynard Keynes.

De acordo com Marks, o sucesso vem através da manipulação de 6 fatores, descritos em pares:

Modo

  1. Posicionamento: saber onde está o ciclo e como se posicionar;
  2. Seleção: saber os mercados, nichos, setores e ativos que devem ter mais e menos peso, de acordo com o ciclo.

Intensidade

  1. Agressividade: ter mais investimentos dependentes de fatores macro;
  2. Defensivo: ter ativos que suportam crises.

Método

  1. Habilidade: utilizar a lógica e premissas razoáveis para balizar os investimentos;
  2. Sorte: aproveitar a aleatoriedade do mundo.

A chave final é escolher mais ativos vencedores do que perdedores.

Algumas palavras que não devem ser utilizadas no mundo dos investimento: nunca, sempre, para sempre, não pode, não vai, irá e tem que.

Conclusões sobre os ciclos

Quanto mais tempo passa e o ciclo permanece na mesma direção, mais as pessoas acham que o comportamento dos ciclos mudou e mais iminente uma correção se torna. Logo, ser emocionalmente forte para viver em tempos onde as correções demorarão para acontecer é investir de modo a proteger o capital.

Tudo que produz muito informação sobre lucro irá atrair muito capital e eventualmente virará bolha, nesse ponto a relação risco-retorno volta para a média (regressão à media) e o posto é valido para ativos que estão muito barato.

“Quando não existe nada mais inteligente para fazer, o erro está em tentar ser inteligente”, Howard Marks.

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