Rápido e devagar

O livro é escrito por Daniel Kahneman, pesquisador de teoria comportamental e ganhador do prêmio Nobel da economia. É dividido em 4 grandes partes, com aproximadamente 38 capítulos no total. Diversos exemplos, teoremas e dicas são apresentadas no decorrer do livro. Tentarei resumir as que achei mais importante e que fizeram mais sentido para mim.

“Nada na vida é tão importante quando você pensa que é quando você está pensando à respeito.”

Parte 01: Dois sistemas

A essência do capítulo é mostrar ao leitor que nós seres humanos possuímos dois modos de pensar e ambos não ocorrem ao mesmo tempo. Estes modos são chamados pelo autor de Sistemas.

  • Sistema 01: pensamentos rápidos e automáticos, cujo não possuímos nenhum controle
  • Sistema 02:  pensamentos rápidos e que exigem esforço mental, este temos total controle
De acordo com a lei do menor esforço, a mente sempre tentará pensar rapidamente para não gastar energia. Muitas vezes quando estamos extremamente concentrado, alteramos expressões físicas (pupila, sombrancelhas, etc.) e o esforço é tão alto que entramos em estado de fluxo. No entanto, esse dispêndio de energia pode ser maléfico e trazer o esgotamento do ego, que é fazer por muito tempo algo que é obrigado.
 
Visto que esses pensamentos correm voluntariamente, nós sofremos por algo chamado efeito priming, que é o ato de fazermos associações por algo semelhante recentemente ou historicamente.
 
O esforço causado pelo sistema 02 também pode ser aproveitado. O conforto cognitivo é você apresentar algo para a pessoa de forma que a conforte e ela não precise pensar muito. Uma apresentação bem feita, limpa e direta irá ser muito mais bem aceita que algo muito complexo. O lado ruim do esforço cognitivo é que, se formos apresentado a mesma coisa por muito tempo, poderemos “parar” de usar o sistema 02 quando ele for exigido.
 
Nosso cérebro adora trabalhar na base de causa-efeito e associar algo há outra coisa que já aconteceu, parecendo “normal”. Interessantemente, para algo se tornar “normal” basta acontecer uma única vez para nosso cérebro. Isto criar o efeito de “tudo que você vê é tudo que há” (WYSIATI), ou seja, tiramos conclusões preciptadas com base em evidências limitadas. Outro fato curioso derivado desta mesma linha de raciocínio é o efeito Halo, que é o fato de você inferir algo da pessoa simplesmente pelo fato de gostar ou desgostar dela.
 
Outro fato decorrido de substituições que nossa mente adora fazer é responder algo através de uma pergunta mais simples, porém que não é igual ao que queremos responder. Se, na primiera pergunta, o sistema 01 não encontrar a resposta, irá buscar por perguntas semelhantes.
 
 

Parte 02: Heurísticas e Vieses

Acho que o capítulo mais interessante do livro. Mostra diversos “atalhos”, descritos como heurísticas, que nossa mente adota. Devemos sempre estar atento à esses acontecimentos e pensar logicamente.

  • Lei dos pequenos números: resultados extremos (altos ou pequenos) tem maior probabilidade de serem encontrados em amostras pequenas.
  • Âncoras: começar uma conversa com um valor específico desconhecido antes de estimá-la.
  • Heurística da disponibilidade: julgar a frequência de algo segundo a facilidade que ela aparece. Fato interessante: lembramos muito mais fácil de nossos esforços do que dos outros.
  • Heurística do afeto: quando se é a favor de algo temos a tendência de ver mais os pontos positivos do que pontos negativos.
  • Esquecer da taxa base e prognóstico de representatividade: concentrar-se apenas no estereótipo e ignorar o quanto tal coisa representa na amostra que está sendo analisada. Quando a evidência de algo é fraca, devemos sempre questionar a taxa base, ou seja, qual é a representatividade das evidências na amostra.
  • Menos é mais: um grupo menos restritivo sempre terá maior probabilidade do que um subgrupo mais específico. Quando não aplicamos esta regra em uma comparação, estamos caindo na falácia da comparação.
  • Causas superam a estatísticas: as pessoas são mais propensas a aprenderem com um exemplo representativo do que com estatísticas.
  • Regressão a média: quando um acontecimento é acima da média, a tendência é cair. No caso oposto, a tendência é subir. A tendência final é sempre regredir a média. Quanto mais extremo o acontecimento, mais regressão é esperada.

Por fim, ele encerra o capítulo com uma das frases mais significativas para mim.

SUCESSO = SORTE + TALENTO

E a maior parcela é sorte.

Parte 03: Confiança excessiva

Kahneman continua com a linha de vieses, porém agora mostrando os perigos que estes podem trazer em nossa confiança.

O primeiro deles é o viés de retrospectiva, que é revisar as idéias após os fatos terem acontecido. O perigo está principalmente quando este viés vem após tomadas de decisão, onde a decisão é avaliada após ter ocorrido, causando um conforto cognitivo. Fato interessante: somos propensos a culpar os tomadores de decisão por decisões que funcionaram mal e dar pouco crédito por medidas bem sucedidas que parecem óbvia após o ocorrido. Assim, líderes que tomaram decisões arriscadas nunca são punidos. Então, atenção: tudo faz sentido quando visto em retrospectiva.

A confiança é um sentimento que reflete a coerência da informação e o conforto cognitivo de processá-la. A continuidade é a prova que se mede habilidade. Ou seja, ser bom em algo em um período e continuar sendo bom em outro período.

Tem-se, então, que decisões baseadas em algoritmos se mostram mais precisas do que decisões tomadas por opiniões de especialistas. Temos que ter cuidado, no entanto, que para a maioria das pessoas a causa do erro faz diferença, ou seja, se é devido a um erro de algoritmo ou erro de pessoa.

A intuição é nada mais, nada menos que reconhecimento de alguma informação que estava na memória. Assim, não podemos confiar na intuição na ausência de regularidade no ambiente, ou seja, ter as variáveis externas bem controladas.

Quando estamos em uma situação temos duas visões possíveis: visão de dentro, você vivendo a situação; visão de fora, você vendo a situação ocorrer. A visão de fora nunca será mais importante que a visão de dentro e tendemos a ignorar conhecimentos de taxa base sobre outros eventos parecidos. Isto nos leva a falácia do planejamento: prognósticos que estão irrealisticamente próximos de hipóteses super otimistas e que podem ser melhoradas com uma consulta às estatísticas de semelhantes. Assim, para evitar esta falácia, devemos reconhecer a necessidade de uma visão de fora e utilizar toda informação disponível sobre eventos parecidos.

Quando necessitamos agir, ser otimista pode ser algo bom. Porém devemos ter cuidado com a quantidade de otimismo. Excesso de otimismo pode trazer mais danos do que ganhos. Assim, uma pergunta que devemos fazer antes de tomar uma decisão arriscada: considerando o que vou fazer, quantas pessoas escolheram o que eu vou fazer?

Uma técnica interessante para responder essa pergunta é chamada de técnica “pré-mortem”, que funciona basicamente por: antes de tomar uma decisão importante, chamar uma reunião com as pessoas envolvidas e avisar para levar para a reunião, por escrito, uma descrição relatando como a decisão foi tomada (histórico) após saber que ela foi um desastre.

Parte 04: Escolhas

O capítulo começa demonstrando a função de utilidade criada por Bernoulli. Esta função demonstra que efeitos psicológicos tem mais impacto na utilizada do que o valor absoluto. Por exemplo, aumentar a riqueza de R$1MM para R$2MM é mais útil do que aumentar de R$7MM para R$8MM. No entanto, a teoria é falha pois não leva em conta o ponto de referência da riqueza. Kahneman trouxe esta ideia e criou a teoria da perspectiva.

A teoria da perspectiva diz que a utilidade de algo depende do modo como é apresentado. Se o ponto de referência é definido de tal forma que o resultado é apresentado como um ganho, as pessoas tem mais propensão a ser aversa ao risco. Se o resultado é apresentado como uma perda, as pessoas tem mais propensão a aceitar o risco. Durante o livro, diversos exemplos são descritos matematicamente. O gráfico abaixo resumo a função de valor da teoria da perspectiva.

A teoria da perspectiva traz à tona diversos efeitos psicólogicos que vivemos. O primeiro é o efeito da dotação, que é deixar a aversão à perda impactar na decisão e continuar a aceitar o ponto de referência. Para não sofrer deste efeito devemos nos perguntar: até que ponto quero isso em detrimento a outra coisa que posso ter no lugar? Outro ponto que devemos sempre ter em mente, que naturalmente, o negativo supera o positivo e a aversão a perda é mais presente do que a busca por oportunidades.

Toda essas discussões da teoria da perspectiva resultaram em um quadro que demonstras as possíveis decisões quando estamos a frente de uma decisão. O padrão quádruplo. O padrão é baseado em dois efeitos:

  1. O efeito da certeza: quando a diferença entre algo certo e incerto é muito pequena.
  2. O efeito da possibilidade: quando a diferença entre algo certo e incerto é muito grande.

O quadro demonstra situações onde temos a escolha entre uma certa porcentagem ou escolher a situação com 100% de certeza. Por exemplo, em 1: entre 95% de chance de ganhar R$10k ou 100% de chance de ganhar R$9,5k o medo de decepção irá fazer a pessoa ser aversa ao risco, deixando de ganhar R$500. Os outros quadrantes seguem a mesma lógica. Por exemplo, no quadrante 3, se apresentado à uma chance de 5% de ganhar R$10k ou 100% de chance de perder R$500 a esperança de ganho faz a pessoa buscar o risco.

Os efeitos de possibilidade e de certeza também estão ligados com a negligência do denominador, efeito que faz com que 10% de chances chame menos atenção do que 1 em cada 10.

Ser avesso ao risco, às vezes, pode diminuir o valor esperado de uma aposta. A dica de Kahneman é: ganhe algumas, perca algumas (considerando apostas independentes) se a perda possível não faz com que você se preocupe com sua riqueza.

Toda essa aversão, aplicando ao mundo dos investimentos, faz com que haja uma preferência massiva por vender ações vencedoras do que perdedoras, o que leva à falácia do custo afundado: investir mais recursos em algo perdido quando existem opções melhores estão disponíveis. Muitas vezes essa decisão é tomada por medo de arrependimento. Precisamos ter em mente que arrependimento nada mais é que o afastamento da opção default. E, de modo geral, antecipamos mais arrependimento do que realmente iremos sentir.

Conclusão

Como funcionamos baseados em dois sistemas, possuímos o que Kahneman chama de “dois eus”. Um deles é o “eu experimental”: o que vive a experiência. O outro é o “eu recordativo”: o que lembra da experiência.

Kahneman mostra, através de experimentos, que o eu expiremental vive a experiência ao decorrer do tempo. O eu recordativo, no entanto, irá reviver a experiência baseado nos picos e no fim, fazendo uma média. Este fato é a regra pico-fim. Assim, confundir a experiência com a a lembrança é uma ilusão cognitiva, pois o sistema 01 representa as coisas por médias, normas e protótipos e não por soma. Um dos exemplos citados é de um casamento de 20 anos: durante grande parte ocorreu tudo bem, no entanto houve uma experiência ruim e no fim foi terminado horrível. As pessoas irão se recordar de um casamento ruim.

A reflexão final passada por Kahneman é: “Será que não é melhor por o celular (adaptado por mim) de lado e aproveitar o momento, mesmo que não seja tão inesquecível assim?”

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